E assim, produzindo mais células de defesa ou mais anticorpos, o organismo reagirá com maior ou menor rapidez na tentativa de conter o parasita, que chega ao fígado 30 minutos depois da picada do mosquito transmissor. Ali, no maior órgão interno do corpo humano, depois de dez dias, cada célula gera 40 mil outras e invadem as células vermelhas que circulam pelas veias e artérias. Durante a reprodução assexuada do parasita, que se passa no interior dessas células do sangue, a molécula de DNA, que carrega os genes, cria outra cópia de si mesma. Porém a molécula que está se formando e deveria ser idêntica à original pode se rebelar e formar uma alça, que fará com que alguns trechos de DNA sejam adicionados ou perdidos. Desse modo, as cópias de DNA saem maiores ou menores que a versão original. E assim se forma uma diversidade genética ainda maior que a que pode surgir durante a reprodução sexual, que se passa no mosquito. A cada dois dias cada célula do Plasmodium forma de oito a 32 células, que rompem as membranas das células vermelhas – é quando surgem os picos de febre alta.
Uma das peculiaridades desse trabalho é a estreita vinculação da atividade de laboratório com o campo. Mônica acompanhou as reações das células e dos anticorpos à MSP-1 trabalhando em um laboratório construído no Centro de Saúde de Acrelândia, município formado a partir de assentamentos rurais. Ela se mudou para lá em fevereiro de 2004 e até junho de 2005 estudou a malária trazida ou adquirida pelos 467 moradores de uma área rural a 50 quilômetros da cidade. Durante sua permanência nessa e em outras regiões da Amazônia, 63% dos habitantes já tinham tido malária causada pelo Plasmodium vivax e 45,8% pelo P. falciparum.
Todo dia Mônica percorria os postos de saúde atrás de casos recentes de febre, que também poderia ser um sintoma de outras doenças, como dengue. Logo depois da época das chuvas, quando os rios baixam e se formam as poças que servem de criadouro para os mosquitos transmissores, ela colhia sangue de
“Podemos ir muito mais longe no trabalho científico se não tomarmos a malária apenas como objeto de estudo, mas como algo que causa sofrimento humano”, diz. Para ele, é o trabalho de campo que poderia também permitir mais avanços originais e uma maior competitividade aos grupos de pesquisa brasileiros, já que o Plasmodium falciparum, mais comum na África, já está adaptado à vida de laboratório, enquanto o Plasmodium vivax, predominante no Brasil, ainda não pode ser cultivado in vitro.
Desde agosto de 2005 é o acreano Natal Santos da Silva, médico infectologista formado
“Se conseguirmos mostrar um padrão de resistência do Plasmodium vivax podemos propor mudanças na forma de tratamento ou mesmo nas medicações”, comenta o médico, que trabalha com o apoio de uma equipe de controle da malária da Secretaria de Estado da Saúde do Acre. “Pode ser que os remédios não estejam mais funcionando da forma adequada, principalmente nas áreas de alto risco de transmissão.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário